sábado, 2 de outubro de 2010

O fim de uma amizade de 31 anos.

Há pouco mais de 31 anos, nascia esse que vos escreve. No dia que eu nasci, meu futuro melhor amigo desafiava e vencia um carinha que eu nunca tive qualquer simpatia. Era dia 16/9/79.

Meu futuro melhor amigo já era forte, poderoso e temido, tava alcançando aquele período da vida que acontece o auge físico e mental. No ano seguinte, meu amigo conquistava o país pela 1º vez. Eu ainda era novo demais para entender o tamanho da conquista do meu amigo. No ano seguinte, meu amigo dominava a América e o Mundo. Eu, ainda um bebê, não tinha idéia do que representava o sucesso do meu amigo.

Os anos se passaram e meu amigo continuava demonstrando para todos sua vocação em vencer e valorizar aqueles que ajudavam na sua caminhada.

Com 6 para 7 anos, em 86, eu ganhei um concurso de redação na escola, disputando com crianças de 10, 11 anos, feito esse que é top 3 na minha vida acadêmica. Não pelo prêmio, não pela disputa, mas por que eu venci com uma redação que falava da nossa amizade e de um outro amigo que tínhamos em comum, um tal "Galinho de Quintino".

Em 87, eu estava lá, debaixo de um dilúvio absurdo prestigiando meus 2 melhores amigos em uma batalha épica que nos daria o Brasil pela 4º vez. A amizade entre mim, Flamengo e Zico parecia que nunca se acabaria.

Nos anos seguintes, um dos amigos rumou para o Japão, para consolidar ainda mais seu status na terra do Sol Nascente, mas antes de partir para o Japão, aconteceu uma festa de despedida antológica para esse amigo. A distância era enorme, havia o fuso horário para complicar, mas a amizade permanecia fiel, eterna.

O tempo foi passando e eu continuei a presenciar a aptidão para triunfar do meu amigo que ficou no Brasil. Eu olhava e pensava:"Cara, como é legal ter um amigo assim, sinto pena das outras pessoas que não gostam do meu amigo, não sabem o que perdem."

No Japão, o outro grande amigo seguia triunfando também, ganhando mais admiradores e seguidores mundo afora.

Mas aconteceu o impensável: meu amigo que ficou no Brasil começou a fraquejar e a se envolver com pessoas que não queriam seu bem, queriam apenas se aproveitar do seu status.

Do Japão, nosso outro amigo mandava alertas, críticas, sinais para que nosso amigo que ficou no Brasil notasse que aquelas pessoas que o rodeavam não nutriam sentimento algum por ele. Mas era tudo em vão e a amizade entre Flamengo e Zico começou a dar sinais de desgaste, algo impensável 10 anos antes. A situação ficava pior a cada ano que passava, por que o amigo brasileiro havia perdido sua aptidão para a vitória e o amigo do Japão não se conformava com isso, continuava cobrando, cobrando, cobrando, por que o amigo do Japão não vencia mais apenas no Japão: vencia na Rússia, na Turquia, enfim, seguia vencendo e quebrando barreiras.

No meio desse desentendimento, lá estava eu, tentando apaziguar e resgatar aquela velha amizade que um dia dominou o Mundo. De um lado, entendia as críticas do amigo que estava no Japão, sabia que ele não falava por mal, embora muitas vezes fosse duro nas críticas. Mas, por outro, entendia o lado do amigo que estava no Brasil, quando esse falava:"Ficar aí do outro lado do mundo me criticando é fácil, cara. Volta para o Brasil pra me ajudar, eu preciso de você aqui."

Foram anos e anos nessa disputa que, por várias vezes, deu à amizada rachaduras ainda mais profundas.

Mas, até que um dia, o amigo do Japão - agora já nem mais do Japão, um cidadão do Mundo - resolveu voltar ao Brasil para ajudar o amigo do Brasil a se levantar novamente. O amigo do Brasil dava sinais que precisava de ajuda e que faria força para se livrar das pessoas ruins que por anos envenenaram a amizade e a camaradagem. Eu, que gostava dos dois de forma igual, respirei aliviado com aquela tentativa de ambos para chegarem ao entendimento. "Dará certo", eu pensava, "tem que dar certo!"

O recomeço foi de muita boa vontade entre ambos, um cobrindo o outro de elogios, resgatando o sentimento, a esperança de dias melhores. Mas, infelizmente, o amigo do Brasil continuava cercado por pessoas que só procuravam envenenar a camaradagem e não fazia muita força para se livrar delas, pelo contrário, fazia vista grossa com as injustiças que eram cometidas contra o amigo que veio de fora para tentar ajudar.

Até que na noite de 1º de outubro de 2009, o amigo do exterior descobriu que o amigo do Brasil não tem pretensões de ser ajudado e resolveu que era hora de pôr fim definitivo à amizade.

Dessa vez, a situação atingiu estado crítico e esse que vos escreve notou que não podia mais "ficar em cima do muro". E não fiquei: entre o amigo que fez de tudo para ajudar e o amigo que fez de tudo para não ser ajudado, fico com o amigo que fez de tudo para ajudar. Acho que todos os envolvidos saem perdendo, mas a vida continuará para os 3 da mesma forma, a única diferença é o fim da amizade de 31 anos.

Um dia, quem sabe, quando outras pessoas de bem notarem que o Flamengo não quer ser ajudado e começarem a se afastar dele, talvez ele - Flamengo - abra os olhos e note que está completamente equivocado nessa questão do trato com os velhos amigos.

Quando e se esse dia chegar, eu estarei lá para ajudá-lo a se reerguer. Mas, provavelmente, pode ser tarde demais para reatar a amizade com o Zico.

SRN

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