segunda-feira, 24 de maio de 2010

"Recordar é viver, o Zico acabou com você..."

12/07/1985. 2 anos e 19 dias depois, o Messias estava de volta ao seu lugar de fato e de direito. Zico retornava ao Flamengo depois de passagem pela Udinese da Itália.

Na reestréia, um amistoso entre Flamengo x Amigos do Zico, vencido pelo Flamengo por 3x1.

Seguiu-se a isso alguns jogos pelo Brasileiro de 85 - no qual o Flamengo terminou em 9º lugar e mesmo assim com mais pontos que o Campeão Coritiba,depois de brigar pelo título entre 80/84 - e veio o Campeonato Carioca.

No Carioca, tivemos algumas saídas importantes. O goleiro Fillol deixou o clube antes do início da competição e Tita deixaria durante, seguindo para o Internacional. Mas em contra partida, durante alguns amistosos realizados, a torcida do Flamengo viu a afirmação de Bebeto e Jorginho no time titular e, mais uma vez, constatou que o Messias ainda era o mesmo craque de sempre, mesmo já passando dos 30 anos.

A estréia do Flamengo no Carioca foi contra o Bonsucesso, no Caio Martins. Zico anotou 2 na goleada. A esperança era clara: era preciso evitar a qualquer custo o tri do Fluminense.

Já para a 2º rodada, a tabela apontava um jogo entre Flamengo x Bangu, Bangu que tinha chegado à final do Brasileiro realizado no 1º semestre. Um Maracanã com um público razoável viu o Flamengo entrar em campo com Cantarele, Jorginho, Leandro, Mozer, Adalberto, Andrade, Elder, Zico(Guto), Tita, Chiquinho(Gilmar) e Marquinho.

Mas público, placar do jogo, jogadas, nada disso é importante. A única lembrança que os envolvidos nesse jogo tem, é essa:

A entrada de Márcio Nunes custou a Zico quase um ano ausente dos gramados. É a história do retorno que é a motivação desse texto.

Depois de muitas sessões de fisioterapia, noites sem dormir e apenas o conforto da família, Zico voltou para disputar um amistoso contra o Iraque em Bagdá. O Flamengo venceu por 2x0 e Zico fez um gol nesse jogo.

Mas o jogo que entrou para a história como “O Jogo do Retorno” foi o seguinte, um Fla x Flu pela Taça Guanabara, no dia 16/02/1986. Outra coisa que pouco se comenta é que Sócrates fazia sua estréia no Flamengo também nesse dia.

Logo que o Flamengo entrou em campo, uma grande parte dos 84303 pagantes gritou “bichado, bichado, bichado, bichado” para aquele homem que já tinha feito gato e sapato do time deles em várias ocasiões. A outra parte, em maioria, desfez-se em homenagens ao seu maior Herói.

Rolou a bola e o Flamengo abriu os trabalhos. Zico tenta passe para Bebeto, a bola é mal cortada pela defesa do Flu e cai nos pés de Adílio, que cruza na cabeça de Zico. Caixa e Mengão 1x0 no placar. Ironicamente, a Magnética canta: “Bichado, bichado, bichado.”

Logo depois, falta para o Flamengo. E falta para o Flamengo naqueles tempos era “o camisa 10 da Gávea” na bola. Zico carimbou o travessão de um inerte Paulo Victor. Tudo indicava que era (mais uma) tarde de show no Maracanã e nem um gol de Leomir de penalty - aos 44’ do 1º tempo - igualando para o Fluminense, diminuiu essa certeza.

No 2º tempo, o Flamengo perde boas chances de passar à frente no placar, inclusive uma criada após passe antológico de Zico para Adalberto.Seguiram-se outras chances para o Flamengo, até que novamente uma falta na entrada da área foi assinalada a nosso favor. Era bem pelo lado esquerdo de ataque e Zico estava na bola. Na cobrança, a mesma foi executada daquele jeito que virou marca: contra pé do goleiro, no ângulo, sem qualquer chance de defesa para um Paulo Victor que sequer esboçou reação.

Zico seguia dando espetáculo, e, como um autêntico gentleman em campo, fazia apenas a bola correr, como que com pena dos jogadores tricolores, que nada tinham a ver com as provocações da torcida deles a ele, Zico.

Em rápida escapada pela direita, nas costas de Branco, Adílio achou Bebeto e esse encheu o pé para fazer 3x1 no placar. A Magnética, feliz da vida, cantava e fazia festa nas arquibancadas do Maracanã. Mas ainda faltava algo para a tarde ficar completa.

E o algo aconteceu: em penalty marcado a favor do Flamengo, Zico fazia o seu 3º gol e dava números finais ao placar: Flamengo 4x1 Fluminense.

Ensandecida, mas ao mesmo tempo grata e emocionada, a Magnética cantou “Recordar é viver, o Zico acabou com você” por longos 10 minutos. Ao fim do jogo, o Messias chorou. Ou por dores, ou pela emoção da volta, enfim, o fato é que o Messias chorou.

Começavam ali 2 trajetórias: a de Zico para disputar (e ficar marcado pelos recalcados após tantas porradas) a Copa do Mundo de 1986 e a do Flamengo para ganhar o título e impedir o tetracampeonato do Fluminense.

Ambas foram bem sucedidas, mas isso é assunto para outros posts.

Saudações Rubro-Negras.

Igor.






Créditos da foto do caderno dos Esportes: Rodrigo Guilherme (http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=13742414084382331979)

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